Nos últimos anos, ouvimos duas narrativas histéricas sobre o futuro da Inteligência Artificial. De um lado, os “doomers” preveem o desemprego universal iminente. Do outro, céticos descartam a IA como um hype superestimado que não transformará fundamentalmente a economia.
Ambas as perspectivas estão erradas.
Todos os melhores indicadores que temos da história, da indústria e do bom senso sugerem que a IA irá, sim, transformar a economia — mas não irá destruí-la. Para founders de startups, entender essa distinção é a maior oportunidade da nossa geração.
E a explicação começa com a estranha história dos radiologistas.
O Paradoxo do Radiologista: Por que a IA Aumentou a Demanda por Humanos
Em 2016, Jeffrey Hinton, um dos “padrinhos da IA”, declarou que as pessoas deveriam parar de treinar radiologistas. Ele afirmou ser “completamente óbvio” que, em cinco anos, o deep learning seria melhor que os humanos.
Ele estava categoricamente errado.
Quase uma década depois, e apesar de dezenas de produtos de IA que detectam doenças mais rápido e com mais precisão que os humanos, a demanda por radiologistas está em seu ponto mais alto.
O que aconteceu?
Embora regulamentações e seguros exijam humanos no processo, a razão fundamental é econômica:
Quando a tecnologia (IA) tornou uma parte do trabalho mais barata (análise de exames), a demanda pelo serviço explodiu. Exames mais baratos significam que mais exames são solicitados. E mais exames significam uma demanda maior pela parte que a IA não faz: o diagnóstico complexo, o planejamento de tratamento e a consulta humana.
Isso é o Paradoxo de Jevans em ação.
O Paradoxo de Jevans: Por que Eficiência Gera Mais Demanda
No século 19, o economista William Stanley Jevans observou que melhorias tecnológicas que aumentavam a eficiência do uso do carvão, na verdade, aumentavam o consumo total de carvão.
Isso ia contra a intuição de que eficiência levaria a menos consumo. Jevans mostrou que a eficiência simplesmente revela uma demanda latente. Essa demanda, por sua vez, cria categorias de trabalho inteiramente novas.
Esse padrão não falha:
- Contêineres (Anos 60): A containerização tornou o frete 90% mais barato. Alguns trabalhadores portuários foram demitidos , mas o comércio global explodiu, criando impérios bilionários em logística e distribuição.
- Cloud Computing (Anos 2010): A nuvem tornou a infraestrutura 10x mais barata. Os administradores de servidores não desapareceram; eles evoluíram para Engenheiros DevOps e Arquitetos de Nuvem, gerenciando infraestrutura em escalas antes impossíveis.
- Chips de IA (Atual): Melhorias algorítmicas que reduziram o custo de inferência fizeram a demanda por GPUs disparar — o que levou as ações da Nvidia a máximas históricas.
O Futuro do Trabalho: Gerenciando uma Armada de Agentes de IA
Como Aaron Levy, CEO da Box, escreveu: “Quando o custo de fazer um trabalho cai, a demanda por ele aumenta”.
À medida que a IA torna mais barato analisar ressonâncias magnéticas, redigir documentos legais e escrever código, a demanda pelo discernimento de radiologistas, pelo conselho de advogados e pela experiência de engenheiros irá aumentar, não diminuir.
Isso não significa que os empregos não vão mudar.
Muitas funções que hoje envolvem trabalho manual se parecerão mais com a supervisão de equipes de agentes de IA. Como Andrej Karpathy (cofundador da OpenAI) argumenta, a IA primeiro transformará trabalhos que exigem pouco contexto e são tolerantes a erros, como atendimento ao cliente ou entrada de dados.
Mesmo assim, esses empregos serão “refatorados” em papéis de gerente ou supervisor, em vez de desaparecerem.
Já estamos vendo isso acontecer em startups da YC:
- AOKA: É um agente de IA para vendas em indústrias de serviços (como encanadores). Ele não está demitindo os atendentes; está liberando-os de tarefas rotineiras para que possam focar em “trabalho de maior valor”.
- Tenor: Automatiza o fluxo de papelada entre prestadores de saúde. O papel do administrador está mudando de “entrada de dados” para “coordenação de cuidados ao paciente” e gerenciamento de casos complexos.
A IA está automatizando as partes “horrivelmente chatas” e “desagradáveis” do trabalho. E, assim como aconteceu com a internet, podemos esperar que trabalhos mais envolventes tomarão o seu lugar.
A Lição para Founders: Não Seja Paul Krugman em 1998
Se você está pensando em fundar uma startup de IA, qual é a lição?
- A transformação é real. Não seja como o economista Paul Krugman, que em 1998 comparou o impacto da internet ao de uma máquina de fax. Não subestime a mudança.
- Não é o apocalipse. Este não é o momento para fantasias sobre o colapso da economia humana. Não fique no sofá esperando por uma renda básica universal.
A IA é a próxima plataforma tão grande quanto, ou maior, que a própria internet. O futuro não está esperando por permissão para começar. Ele está sendo construído agora por pessoas que, como você, veem coisas que os outros não veem.
Toda grande empresa começa com um founder que decide apostar em sua convicção. A única questão é se você será um deles.
Gostou desta análise? O sucesso de uma startup depende de aprendizado contínuo.
Continue aprendendo com mais insights e estratégias em nossos outros artigos.
